Destinado não só a pessoas com tendências homossexuais mas também aos seus pais, cônjuges, amigos, colegas de trabalho, e ainda a médicos, psicoterapeutas, professores, padres, &c., é este livro escrito por um psicólogo holandês especialista em homossexualidade:
Este livro foi escrito depois de mais de vinte anos de estudos sobre a homossexualidade e depois de ter tratado mais de duzentos e vinte homens homossexuais e uma trintena de mulheres lésbicas, seguindo os princípios da teoria da autocompaixão, (...) [a qual] representa a esperança de que pessoas prisioneiras do antigo preconceito de que a homossexualidade seja inata e imutável possam ser ajudadas a tornar-se emocionalmente mais maduras.
Ao longo de duzentas e vinte páginas, desfazem-se inúmeros mitos sobre o tema, muitos deles sob aparência científica, recorrendo-se à experiência clínica do autor, de Sigmund Freud, Wilhelm Stekel, Johan Leonard Arndt, e muita outra literatura da área.
Por exemplo, explica-se que, durante o seu normal desenvolvimento bio-psico-social, os adolescentes passam por um estado de imaturidade sexual (muitas vezes sem se aperceberem) em que sentem atracções eróticas por objectos e configurações animadas ou inanimadas, situações emotivamente excitantes, pessoas do mesmo sexo &c. - o estado "multi-sexual" -, o qual normalmente ultrapassam de modo rápido e irreversível logo que a atracção física pelo sexo oposto se impõe: "Isto é mesmo do que eu andava à procura!". As pessoas com tendências homossexuais vêem o seu desenvolvimento afectivo travado nesta fase multi-sexual, e canalizam-no para as pessoas do mesmo sexo.
Em resumo, estas pessoas sofrem de um complexo de inferioridade quanto à sua própria sexualidade, isto é, os rapazes sentem-se menos viris (quanto à resistência e força, aspecto físico, coragem, audácia) que os seus pares coetâneos, e as raparigas menos feminis (aptidões sociais, aparência física, interesses ocupacionais). Tal facto é muitas vezes secundário, no caso do rapaz, a uma educação em que a mãe é super-protectora e muito ansiosa e em que o relacionamento com o pai é deficiente ("pai ausente"): o pai despreza o filho mais novo em relação aos mais velhos; passa pouco tempo com a família; é pouco viril, e portanto um modelo deficiente de virilidade para o rapaz, &c.. No caso da rapariga, é a mãe, que - quando pouco íntima da filha ("mãe ausente"), ou quando a pretere aos outros filhos e filhas, ou quando não lhe dá autonomia, ou quando lhe transmite o seu próprio "pouco à vontade" enquanto mulher - acaba por não conseguir que se sinta apreciada como mulher, e encare o mundo feminino com naturalidade. Também o pai pode perturbar o normal desenvolvimento da identidade sexual da rapariga se a trata como um rapaz, se a gaba para comprar a sua dedicação, ou se revela marcado desinteresse ou reprovação pela sua feminilidade.
A criança sofrendo de um complexo de inferioridade ("sou gorda", "gostam mais do meu irmão do que de mim", "gaguejo", "os meus pais são pobres", "chumbei", etc.) sente-se inferior não só num aspecto de si, mas em toda a sua personalidade - exagero subjectivo próprio da personalidade infantil -, e tenta encontrar calor humano dentro de si, já que não lhe satisfaz o que recebe de fora. Mima-se, e sobrevaloriza as ofensas de que é vítima: "coitadinho de mim! sou tão infeliz!". É a auto-dramatização.
Quando se depara com as atracções homo-eróticas da fase multi-sexual, no despontar da sexualidade, o adolescente sente-se afastado dos colegas da mesma idade, e envergonha-se de não partilhar o interesse pelo outro sexo, tentando dissimular o facto e negando os seus sentimentos, perante si e os outros. Mais tarde, acaba por concluir: "sou homossexual". O desejo da criança que se sente merecedora de compaixão interliga-se ao erotismo sexual ainda imaturo e não focalizado em plenitude no sexo oposto: "sou diferente e inferior, estou condenado". Esta auto-identificação e a práctica de relações homossexuais são encaradas pelo jovem como a solução para todos os seus problemas, incluindo a solidão.
Note-se que a análise do tema é psicológica e não moral. O autor reconhece que, ao contrário da minoria militante, a maioria esmagadora das pessoas com tendências homossexuais não causam alarido, vivem perturbadas pela sua situação, pelo isolamento social, e pelo facto de ficarem solteiras e sozinhas. Sentem-se inferiores e infelizes, desesperadas até, e gostariam de mudar se soubessem possível.
Neste livro tão-bem se relata alguns casos de pessoas com sentimentos homossexuais, tratados ou em tratamento, com muitas citações na primeira pessoa:
É um mundo terrível e não o desejo nem ao meu pior inimigo. (...) Ao longo dos anos vivi com uma série de companheiros de quarto, alguns dos quais eu dizia amar. Eles juravam que me amavam. Mas as ligações homossexuais começam e acabam com o sexo. Além do sexo há bem pouco para fazer. Depois desse período inicial apaixonado, o sexo torna-se cada vez menos frequente; os parceiros ficam nervosos, começam a enganar-se um ao outro, primeiro às escondidas, depois cada vez mais às claras... Há então cenas de ciúmes e mexericos. Nessa altura dá-se o afastamento e cada um parte à procura de um novo amante.
A neopsicanálise apresentada pelo autor encaixa o complexo homossexual dentro do grande grupo das neuroses, perturbações emocionais originadas em complexos de inferioridade, vitimismos e infantilismos de personalidade, de que resultam as hesitações e emoções obsessivas, os sentimentos imotivados de insegurança e os conflitos interiores, sempre tão dolorosos, descritos por estes doentes.
Mas para além de explicar o problema, esta teoria oferece um tratamento - o "auto-humor" - que é eficaz a médio e longo prazo na medida em que a pessoa queira ajudar-se a si mesma. É o doente quem tem que fazer por si a parte essencial do trabalho, no dia-a-dia - o psicoterapeuta orienta:
- identificar os sentimentos infantis de sofrimento e inferioridade, em situações concretas;
- reprimir o desejo de contacto e romper a sua relação com o companheiro homossexual, sem demoras (agora)
- desdramatizar a sua situação actual;
- não perder a esperança quando houverem recaídas;
- treinar o humor: sorrir e rir-se das criancices ("coitadinho de mim!"), expôr as suas lamentações a ridículo.
Começando a tratar-se o Eu infantil com saudável ironia, reduz-se a sua solene importância.
(...)
As alterações no âmbito sexual devem ser vistas como parte da reorientação emocional de toda a pessoa.
Até que se extingam por completo os sentimentos homossexuais, surja a atracção pelo sexo oposto, e se torne possível uma relação matrimonial.
Por fim, para prevenir futuros casos de homossexualidade, propõe-se:
- que os pais ofereçam aos seus filhos um ambiente de afecto e união e que o seu próprio casamento seja um bom exemplo de uma relação normal e sólida entre um homem e uma mulher;
- que se apreciem os filhos rapazes como rapazes, e as raparigas como raparigas, apoiando as suas tendências naturais; e
- que seja dito aos mais novos que não existe tal coisa como a homossexualidade inata e que os sentimentos homossexuais da adolescência são problemas emocionais próprios do desenvolvimento normal, correspondentes a um complexo de inferioridade superável.
Escrito por Gerard van den Aardweg, traduzido por J. M. Costa André e publicado pela Diel em Portugal e no Brasil.